terça-feira, 14 de dezembro de 2010

o frasco de validade vencida.

Como diria o pequeno príncipe, somos responsáveis por aquilo que cativamos, mas o que ele esqueceu de dizer é que sempre nos esquecemos disso.

Eu lembro daquele dia, não dos mínimos detalhes ou de como o tempo correu. Só lembro da chuva, que caía forte sobre meus ombros.
A chuva, tão limpa, tão suja. Purificante. Romântica. Machucava da forma que me tocava, mas acredito que a sua intenção era a melhor possível: lavar algo que estava muito abaixo da minha pele.
Tudo que portava naquele momento eram órgãos internos estilhaçados e um frasco de sentimento, que só então me dei conta que a sua validade havia expirado a muito tempo. Era daquele modo que eu estava no momento em que a última gota da chuva me feriu. Minhas vestes, completamente molhadas, colavam ao corpo me dando uma sensação de nudez, todo o desenho da minha estrutura estava exposta naquelo momento, apenas com cores diferentes da minha pele.
Ela estava próxima a mim e eu, um mero garoto cujas malas haviam sido saqueadas certo tempo atrás, sentia aquele arrepio consequente daquela poção do amor, droga. Estava tão cego e ansioso para bebê-la que nem me dei conta de que seu gosto amargo significava que ela havia passado da validade, mas já o tinha feito e aquele veneno já corria pelas minhas veias de forma avassaladora. Não sei de fato o que ela destruiu dentro de mim, se provocou alguma inflamação ou algo do gênero, só sei que hoje eu sinto... quer dizer, não sinto nada. Aquela pessoa. Sim, ela mesma. Tão linda e comovente, parcialmente emocionante e totalmente adimirável, assistia aos últimos momentos em que eu perdia tudo que eu possuia dentro de mim. Mas nem sequer se aproximou de mim. Assistiu tudo de longe sem feições definidas. Do modo que me olhava, me machucava de forma sultil, sentia uma dor horrível que ia passando aos poucos até não sobrar nada. ponto. O efeito da droga vencida finalmente chegou.
Li em algum lugar, que lembrar o nome dele seria a última coisa importante nesse momento, os perigos de tal poção, o volume máximo que deve ser ingerido e os cuidados que devemos ter. - Mas só depois de conhecer tudo por experiência própria, tudo apenas a título de curiosidade. - E uma nota sobre o assunto dizia: 95% de chance de Efeitos colaterais. E cá estou, com a alma pobre sem sentimento, vagando pelo mundo satisfazendo meus prazeres.
A verdade é que nada tenho a reclamar. Vivo muito equilibrado desde que perdi meus sentimentos, vivo dedicado a ambições e prazeres que as vezes nos privamos por sentimentos e o fato é que aquela pessoa simplesmente me ajudou a me sentir bem hoje em dia e, por mais que sua intenção não tenha sido uma das melhores, eu tenho muito a agradecer a ela, afinal, ela me ofereceu o veneno, mas custava a mim aceitar ou não.

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