Começarei meu relato contando uma história. Ela foi decisiva para mim e por isso não poderia deixar de relatá-la antes de falar qualquer coisa.
decisões.
Ela sempre sonhou em ser atriz. Aquele jeito extrovertido que cativava a todos, trazia às pessoas a certeza de que ela realmente brilharia muito em grandes novelas da Globo. Seu pai tinha grande influência e uma ótima condição monetária e conseguiu, para ela, uma oportunidade de se mudar para o Rio e seguir sua carreira.
Ele era um ser livre, não ligava para estudos, nem roupas, nem padrões sociais. O que desejava mesmo era viajar com uma mochila nas costas, fazer artesanatos e vendê-los em feiras improvisadas pelos lugares que passasse. Ele já tinha uma vivência nômade graças ao trabalho do seu pai que não os permitia parar em nenhum lugar por mais de dois anos.
E assim viviam seus sonhos, ela de brilhar mais e ele de ser mais livre. Até que se conheceram. No colegial, onde quase todas as histórias de amor sólidas começam, dentro da sala de aula. O que para ela seria um romance passageiro, para ele era apenas mais uma garota que passaria pela sua vida. Que destino brincalhão. Claro que não seria simplesmente isso. Claro que teria que existir alguma coisa que os fizesse questionar o que realmente queriam do futuro. Seria essa vida de tapetes vermelhos tão tentadora quando o amor? E essa tal de liberdade, seria tão desejada quando um sentimento? E eles escolheram, no início das suas vidas adultas, o que seriam para o resto da sua vida. Ela e ele, pela primeira vez fazem algo igual: abandonam seus sonhos um pelo outro. E assim cresceram, construíram, destruíram, fortaleceram suas vidas gerando uma nova que não conjugariam os verbos na primeira pessoa do singular e, sim, no plural.
Desse romance surgiu riquezas, felicidades e duas novas vidas. O primogênito e o garoto cujas malas foram roubadas. Quando questionados se há arrependimento, eles dizem que não, porque para cada escolha há uma renuncia, apenas precisamos saber se a tristeza da renuncia será apagada pela alegria da escolha.
Sim, essa é a história dos meus genitores. Meus pais. Meus criadores. Meu depósito de amor eterno. Minha inspiração e minha alegria. O único problema é que eu não sonho em ter a vida deles, não corro atras dos mesmos sonhos que eles e, lembro-me muito bem, quando criança, prometendo para mim mesmo correr atras dos meus sonhos tirando cada pedra que tentasse pousar no meu caminho. Infelizmente, até então, nunca tinha me deparado com uma pedra tão grande quanto a que impediu meus pais de continuarem na sua reta e tangenciasse para o que eles são hoje em dia. Nunca. Por isso me consolei pensando que seria para sempre uma pessoa sozinha, que o abraço dos meus amigos fossem o suficiente e que o colo deles me confortassem, até conhecer alguém. Claro, estou sendo muito pretensioso em afirmar que tal pessoa seja capaz de mudar meu destino, mas ela me pôs a pensar. Por outro lado, sou teimoso e sigo fielmente a filosofia de que somos seres separados e devemos pensar no eu, antes de pensar em nós, e esse foi o motim da quinquagésima guerra interna dos meus eus. Acho que dessa vez eu sei qual deles vai ganhar. Ou pelo menos espero que esse seja o certo.
meu dom, de só eu saber o que eu quero dizer.
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