terça-feira, 30 de agosto de 2011

a vaca dadaísta.

Chuva de leite
Que cai da nuvem de vacas
E alimentam as piranhas
Que dantes comiam
As carnes carcumidas da guerra

Manadas de vacas
Cardume de abelhas
Todas elas simplesmente
Adocicavam o verão transformando-o
Em primavera

Das flores que saiam pedras
Surgiram traças
Imundas
Que limparam o dia

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

lágrimas.

São apenas lágrimas que escorrem pela minha alma. Elas não significam nada, para ser preciso. É apenas a limpeza do que me faz mal, elas representam o nada que cada uma dessas coisas representam para mim. São apenas lágrimas, que rasgam a pele do meu rosto, lágrimas asperas de dor!
Elas sabem como são poderosas, como podem significar alegrias e tristezas e usam disso muito bem. Sabem ferir e sorrir cada ser humano de forma intensa. Lágrimas matam tristezas ou simplesmente a reforçam, mas a graça que ela sente é, sem dúvidas, mudar o que sentimos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ponto.

Converti. Converti todo o ódio em indiferença.
Escrevi. Escrevi versos singelos e dolorosos quando tudo que conseguia fazer era derramar lágrimas sobre o papel.
Dancei. Dancei quando minha única opção era sentar.
Cresci. Posso resumir tudo em apenas uma palavra. Cresci. e aprendi que a vida é nada ao mesmo tempo que é tudo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

a melhor prostituta de um prostibulo falido.



As luzes apagaram. A música começou. Ela entrou.


O nome dela era Moça. Na verdade, na verdade, não era esse, mas àquela altura, nem ela lembrava mais qual era o seu nome e o seu nome era a última coisa que importava naquele momento.

Ela era linda, sedutora e uma excelente profissional e já trabalhava a alguns anos naquele muquifo.

Além dela haviam outras moças que dividiam o mesmo ambiente de trabalho, mas nenhuma era sequer bonita. Sua chefa, Dona Roberta, cujo nome natal também não era esse, era uma velha ranzinza que só se importava com o dinheiro.

O lugar era sujo e tinha um odor característico de morfo e sexo. Álcool e cigarro eram aromas preciosos naquele lugar, e que mesmo assim estavam marcados em cada móvel daquele prostíbulo.

Ele já havia ido lá. A alguns anos atrás, antes de viajar para estudar. Foi um presente do seu pai: a sua primeira - e única - vez. Ao vê-la pessoalmente ele percebeu que ela permanecera a mesma: bonita e atraente, dominadora dos seus sonhos. Ele voltou àquele lugar, mas não esperava sequer reconhece-la, já que, soubera que, desde então, ela nunca saiu daquele lugar. Mas não. Ela era a mesma! Se duvidasse, ainda melhor. "Talvez tenha sido o tempo que a fez amadurecer", pensou o Moço.

- Robertinha, meu amor! - disse o pai do Moço

- Olá amore - dizia assim para todos os clientes já que nunca lembrava o nome de ninguém. - É sempre bom tê-lo aqui! - mais uma coisa que dizia a todos.

- Lembra do meu filho? Esteve aqui ainda moço, mas agora já é um homem, formado!

- Claro que lembro - mais uma mentira - Como você cresceu! - Disse a ranzinza com um ar totalmente falso que sempre fazia.

- Queria presenteá-lo mais uma vez.

- Imagino até qual seja o presente!

- Eu imagino que estejamos falando da mesma coisa...

Ela riu e completou:

- Tal pai, tal filho! - silêncio - Separarei o presente do garoto. Serás o primeiro da noite! - falou virando para o moço.

- Não, não... - interrompeu o pai - Reserva a noite toda!

- Realmente é um presente digno! Os outros clientes que não vão gostar muito, mas ele merece - virou-se para o moço e completou - Não é, meu garotão? - apertando a sua bochecha.

Ele riu sem graça.



Alguns instantes se passaram e ela finalmente chamou o garotão para ir de encontro a Moça. Mostrou-lhe a porta do quarto da prostituta. Ela não falou mais nada - ainda bem, porque sua voz irritava qualquer um - e ele entendeu o recado. "Devo bater na porta antes?" pensou. Mas decidiu que não e, sem muitas cerimônias, ele entrou. Ela, linda como sempre, vestia uma lingerie preta, diferente daquela que usava quando estava la fora.

- Boa noite... - disse o Moço sem jeito.

Ela não respondeu, foi abrindo logo o seu zipper e abaixando as suas calças. Ele não sabia o que fazer, mas sabia que não era aquilo.

- Não, não... Espera um pouco...

Ela não demonstrou reação alguma. Apenas se afastou e sentou com as pernas cruzadas.

- A senhora tem algum cigarro ai?

Ela apontou para a gaveta do criado mudo que parecia cair aos pedaços, junto ao resto do quarto que, mesmo sabendo que era o melhor do lugar, não era de longe o melhor quarto que já havia entrado. Ele o pegou e sentou-se ao lado dela. Acendeu o cigarro ainda sem jeito e tragou.

Silêncio.

Mais um trago.

Silêncio.

- A senhora não quer um?

Ela balançou a cabeça negativamente.

- Por quê? A senhora não fuma?

Balançou a cabeça indicando um não novamente.

- Mas a senhora não se importa que eu fume aqui não, não é?

Mais um sinal de não indicado pela cabeça.

- A senhora não fala?

Dessa vez ela respondeu com um sinal positivo.

- Não parece... - e riu, mas ela não. - A muito tempo trabalha aqui?

Novamente um sinal de positivo.

- Sabe a quanto, para ser mais exato?

Ela levantou os ombros indicando um "não sei".

- Eu não queria simplesmente transar hoje, a senhora se importa? Já sei, vai responder que não.

E ela respondeu um sim com a cabeça.

- O que a senhora faz durante o dia? Quando não está trabalhando? - Ele queria ouvir a voz dela e sabia que não resolveria se as respostas fossem apenas sim ou não.

Silêncio.

- Nada. - ela finalmente respondeu.

- Nada?

- Quer dizer, eu geralmente leio um livro...

- Sério? Sem preconceito, claro... - Mas sim, ele foi preconceituoso.

- Sim.

- Qual livro está lendo agora?

Ela riu.

- Vários.

- Como assim?

- Não gosto de ler um livro direto, não gosto de ficar presa a uma história só, é mais interessante quando você diversifica. As histórias parecem se embaralhar e cabe a você reorganizá-las na sua cabeça...

- Nunca tinha pensado assim.

- Os livros as vezes, por mais interessantes que sejam, tornam-se chatos.

Ele se calou. Quem diria, um Moço viajado, estudado, que falava mais de uma língua, refletindo sobre o que uma prostituta havia lhe dito.

- Então gosta de quebra-cabeças?

- Não. Eu gosto de conhecer um pouco de cada história, ir conhecendo um pouco de cada personagem, fantasio, crio, me imagino na pele delas... Homens, mulheres, animais... Não sei o que é...

Ele não sabia mais o que dizer.

- Desculpa a minha indelicadeza, esqueci de me apresentar. Meu nome é...

- Eu lembro.

Ele se assustou.

- Lembra?

- Sim, esteve aqui a um tempo atrás...

- Foi mesmo... Mas como que lembra? Faz tanto tempo...

- Lembro de todo mundo, cada um com suas características e particularidades. Ninguém é igual a ninguém, por isso que lembro de todos.

- Sério?

- Tens mania de confirmar tudo! Não consegues acreditar de primeira?

- Consigo... Quer dizer, acho que não, quer dizer, não sei... nunca pensei por esse ponto.

Ela riu. Ele riu. Riram juntos em um coral de risos que combinaram diferentes tons na mesma afinação e conversaram a noite inteira.

O sol nasceu e ele se despediu da Moça. Sua feição era de cansado e de satisfeito o que fez seu pai achar que ele teve uma noite e tanto. E teve. Porém não no sentido sujo dos pensamentos do Pai.

Ele não disse nada, apenas se dirigiu ao seu quarto e dormiu. A Moça o perseguiu nos seus sonhos. Não eróticos, não sentimentais. Na verdade ele nem se lembra direito do que se tratava o sonho, mas foi bom. Naquela noite ele não voltou àquele lugar sujo, mas vontade não lhe faltou. O motivo, nem ele mesmo sabe, mas não conseguiu dormir imaginando o que a Moça estava fazendo naquele instante. E virou na cama, mas de nada adiantou.

Na noite seguinte ele decidiu ir lá. A moça estava linda como sempre e sorriu ao vê-lo assistindo-a.

- Dona Roberta... - disse se dirigindo à dona do estabelecimento.

- Olá, meu amorzinho...

- Eu queria...

- Já sei, uma horinha com a Moça?

- Na verdade eu queria a noite inteira novamente.

Ela se espantou com o pedido, mas respondeu que sim e o fez.



- Achei que viesse ontem. - Disse a Moça quando o viu entrando pela porta.

- Eu também achei, na verdade nem sei o que aconteceu... Me desculpa?

- Você não me deve desculpas não...

E se deitaram para conversar.

A partir daquele dia, virou uma rotina do Moço frequentar aquele ambiente que agora já se acostumara com o mal cheiro e as imperfeições dele. Aquele dia, um dia como outro qualquer, o Moço sentiu algo diferente no ar. Parou um tempinho para olhar ao seu redor e percebeu que o lugar mudara. Não haviam mais tantas pessoas assim e Roberta estava com um semblante bem aterrorizante.

- Oi Roberta...

Ela fingiu não ouvir.

- Roberta? Robertinha?

Ela continuou com a cabeça baixa olhando os papéis que estavam na sua mão.

- Roberta! Não está me vendo aqui?

- Ah, oi... tudo bom? Não tinha lhe visto aqui...

Ele preferiu fingir não ouvir o que ela disse.

- Eu vim...

- Eu sei exatamente, mas não posso, me desculpe. São as novas normas da casa, não sabe ler? Está bem alí na parede.

Ele olhou uma placa em papel ofício escrito com hidrocor preto as seguintes palavras "Caros clientes, não é permitido reservar a noite completa".

- Mas... - tentou falar, mas foi interrompido.

- Desculpe, mocinho, mas são regras da casa e você deve saber muito bem que eu sou uma mulher correta que não gosta de desrespeitar as normas de um estabelecimento, não é mesmo? Pois bem, se quiser uma hora, poderei sim lhe ceder, mas será cronometrada para não ter nem um segundo a menos... Nem a mais!

- Tudo bem, então... vou querer uma hora, a primeira da noite!

Quando entrou no quarto, a Moça parecia triste.

O Moço já imaginava o motivo da tristeza da Moça.

- Ela é uma idiota! - Disse o Moço.

- Não, ela só está fazendo o trabalho dela. E eu tenho que cumprir. - Ela começou a tirar a roupa.

- O que você está fazendo? Pare com isso! - Disse o Moço sem reação ao que estava acontecendo.

- Isso aqui é um bordel, um prostibulo! As pessoas vêm aqui para fazer sexo, comprar sexo. E a minha função é satisfazê-los. Então pois bem, é isso que irei fazer!

- Pare com isso! Você vai se entregar assim? Simplesmente abaixar a cabeça e engolir o que ela tem para dizer?

- VOCÊ NÃO ENTENDE! - Até a Moça estranhou o tom de voz que ela usou! Nem ela mesma sabia que conseguiria gritar. - É muito fácil para você simplesmente vir aqui! Você tem o seu dinheiro, sua casa, sua família. Eu não! Quer dizer, Essa aqui é a minha casa, minha família, por pior que seja é essa a verdade e eu tenho que encarar os fatos como eles são! Chega de fantasia! Você vai tirar a sua roupa? Caso não queira, pode sair que eu tenho diversos clientes nessa noite!

Aquilo machucou profundamente o Moço. Ele não sabia como reagir, tentou, ainda falar algumas coisas, mas nada saiu da sua boca. E se retirou.


Passaram-se dias, dias mudos e introspectivos. O Moço permanecera calado, imaginando a Moça entregue a tal ilusão. Ele sabia que algo deveria ser feito, mas não sabia o que. No fundo ela estava certa, a Moça tinha mesmo que trabalhar e na certa Roberta havia dito algo a respeito do seu emprego e permanência no local. 
AQUELE LOCAL IMUNDO!

Era a única coisa que conseguira pensar. Sim, daquele pântano tinha aquela bela flor, mas de nada adiantava.

Ele pensou, passou algumas vezes pela porta do prostibulo, mas não conseguiu nem entrar. 

Naquela noite choveu. Choveu muito. E isso mudou algo no Moço. 
Naquela noite ele decidiu ir lá no lugar imundo. E entrou, sem ao menos marcar hora, inclusive não tinha nem sequer começado os serviços que aquele lugar, mas entrou. 
No susto a Moça, que ainda se arrumava, deu um pulo se surpresa. Ela estava com uma cara triste e parecia totalmente infeliz.

- Vim te tirar daqui. - disse o Moço sem cerimônias.

O silêncio surgiu.

- Eu pensei sobre o que você me disse e você está certa. Você tem muito o que trabalhar, correr atrás do que é seu, mas o único problema é que você está no lugar errado. Venha comigo! Por favor.

A Moça se levantou, mas foram interrompidos pela porta abrindo desesperadamente. Roberta, como sempre interessada em destruir o laço dos dois.

- Temo em dizer que talvez você não devesse estar aqui, Rapaz!

- E eu... - Tentou o Moço começar a falar, mas foi interrompido pela Moça.

A Moça pegou suas coisas, poucas, mas todas, e seguiu em direção a porta, puxando o Moço pelo braço.

- E eu fico feliz em dizer que estou livre de você.

Eles sairam, sem rumo, rindo. Rindo risos que ensurdeceram a cidade. Risos que fizeram todos calarem para sentir aquela felicidade dos dois. Risos que marcaram uma nova vida de descobertas que seria protagonizada por dois jovens, um Moço e uma Moça, apenas interessados em se amar.

leitura silenciosa.

Simplicidade de notas confusas. De repente surgem em harmonia como talvez um beijo que não tenha sido dado ou um abraço em si mesmo.
Do nada surge algo,
Nem que seja o nada
Que nade sobre o vácuo.
Do nada vem palavras que ficaram mudas, ditas no reflexo do vazio que o silêncio preenchia. Silêncio, apesar de nenhum som, é possível ouvir, mesmo que seja muito mais sentir do que ouvir, sente.

Sente o silêncio sentado,
Sente ao lado do silêncio
Que alí está estacionado.
Não precisa dizer nada para destruir o silêncio. Ele que está alí parado, sozinho no seu canto esperando que alguém o entenda, mas não, ninguém o entende. Ninguém o ouve, ninguém o deixa desabafar. O silêncio as vezes grita, mas só um coração sensível consegue ouvir. Ninguém ouve o silêncio, ninguém considera o silêncio algo para ser ouvido, simplesmente fecham seus timpanos, e acreditam que o silêncio no fundo não existe, simplesmente porque seus gritos são mudos.
E muitas pessoas, que não sentam ao lado do silêncio e o sente, são tão mudas quanto o silêncio e são tão mesquinhas esperando que alguém os ouça, mas não deixam o silêncio ser o silêncio que acalmará suas palavras que mesmo ditas são mudas e impuras. Muita gente é silêncio, até gente demais a gente é o silêncio, somos mudos mesmo quando alguém nos ouve, porque no fundo não sentimos o silêncio sentado, assim como ninguém nos sente sentados, deitados, em pé, porque só a gente que talvez seja muita gente, se entende. Assim como o silêncio só entende a si mesmo, mas ajuda muita gente a se entender.

Sim, o silêncio é a prosa e a poesia juntas, porque sem eles, sem o nada, não surgiria algo que nadasse no vácuo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

amor.

Certa vez, ao caminhar sem rumo, pensei mais um pouco sobre o verdadeiro significado de amar. Atear-se Mais a Algo Real.

Amo e amo muito, muitos. Mas ninguém eu amo de forma simples.